Perda de peso pode ser dificultada por fatores psicológicos
Atualizado em 19 de junho de 2019Compartilhe

Sabe aquela dificuldade de emagrecer, mesmo seguindo a dietas e planos de exercícios? Pode ser, literalmente, coisa da sua cabeça
Estudo realizado por psicólogas do AME Jardim dos Prados, administrado pela Associação Congregação de Santa Catarina revela, a partir da psicanálise, mostra como adolescente em tratamento pode ter desenvolvido obesidade desde o seu nascimento
Mais da metade da população paulista (52,6%) está acima do peso, aponta levantamento divulgado em 2014 pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Foram entrevistadas, por telefone, 5,7 mil pessoas da capital e do interior com objetivo de avaliar os fatores de risco e de proteção para doenças crônicas. Na análise por gênero, os homens apresentam um percentual um pouco maior, 54,9%. Entre as mulheres, 50,4% estão com excesso de peso.
O sobrepeso entre a população do Estado está um pouco acima da média nacional, que é de 51%. Em relação à obesidade, o percentual é menor, em torno de 19%. Foi neste cenário que as psicólogas, que têm a orientação pautada pela psicanálise, Ana Paula Barcelos Correia e Maria Fernanda Veiga Miglioli, que atuam no Ambulatório Médico de Especialidades Jardim dos Prados (AMEJP), administrado pela Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC) em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, realizaram um estudo para compreender como fenômenos psicossomáticos psicanalíticos podem estar relacionados com a obesidade.
À luz da psicanálise, as especialistas trabalharam com um estudo de caso de um adolescente de 13 anos, com o objetivo de identificar questões psíquicas que podem dificultar a perda de peso. O tratamento foi iniciado a partir do encaminhamento da endocrinologista que acompanhava o jovem, que avaliou a necessidade de um direcionamento psicológico para o seu caso. O adolescente também era acompanhado por nutricionista e cardiologista.
A participação dos pais foi permanente, uma vez que a ideia do trabalho era também avaliar a influência direta dos familiares em todo o processo. Este fator, aliás, está entre os principais focos do estudo, segundo o qual o tratamento psicanalítico para obesos demanda, necessariamente, de uma avaliação dos familiares do paciente, de modo que seja possível identificar aspectos do relacionamento familiar que eventualmente geram impactos para o indivíduo em tratamento.
Por meio das sessões realizadas com o adolescente, foi possível constatar que ele permanecia fixado na chamada fase oral, ainda com uso de objeto transicional, o que significa uma dificuldade do indivíduo de se separar da imagem da mãe e constituir uma projeção de si como ser diferenciado.
Com a ajuda da psicoterapia, neste caso específico, o jovem e seus familiares adquiriram a consciência de que em suas relações existia o excesso de comida e a falta de afeto. Desta forma, entendeu-se que o corpo do garoto, utilizado como seu principal meio de expressão, representava, por meio do exacerbado consumo de comida que o levou à obesidade, algum desejo não satisfeito.
De acordo com as psicólogas, “essa família tem uma demonstração empobrecida de união e afeto, simbolicamente, por meio de representações. A forma que impera é a identificação – no corpo, na obesidade, na passividade e até na agressividade”.
“Como eixo condutor desta discussão, refletimos sobre as relações familiares, o processo de identificação, os entraves a partir do olhar narcísico dos pais e a falha no processo de representações pela linguagem. Apesar de um corpo jovem que grita em função de problemas graves de saúde, foi valorizado não só o resultado na balança, mas principalmente o discurso familiar e o significado da obesidade nesta família”, resumem as autoras.